Foi firmada este mês, a parceria entre a STONE e o atleta Caio Gomes. "Estou muito feliz de poder fazer parte da equipe da STONE, tenho certeza que a parceria dará super certo" conta Caio, que completa. "Com o Centro de Treinamento da Família Buscapedra quase pronto, o ano de 2011 promete uma grande evolução. O ATLETA STONE TEM QUE SE SUPERAR!". De acordo com Gustavo Fontes, educador físico, escalador e um dos donos da STONE, a família STONE só está crescendo e tem muito o que evoluir. "É com muita alegria que a STONE termina o ano de 2010 fechando mais um apoio. Desta vez, o felizardo foi o atleta de Niterói, Caio Gomes, que com anos de dedicação conseguiu mostrar todo sua paixão pela escalada". Gustavo finaliza. "Somos muito gratos por pode fazer parte da Família Buscapedra e contribuir para evolução da escalada nacional. Aliás, família exemplar no que cerne à dedicação à escalada. Que venham as cadenas!".
As vezes me permito sair um pouco do vicio da escalada e fazer um programa alternativo. O programa desta vez foi uma viagem para Ushuaia, que é uma cidade que fica no extremo sul da América conhecido como “El fin del mundo”.
Ushuaia fica na base do inicio da cordilheira dos Andes, uma cidade com clima de montanha e de esportes radicais. O local tem duas estações bem destacadas que é o inverno e o verão. Eu estive em Ushuaia entre os dias 19 a 23 de setembro que pega o período final do inverno. Período ótimo para poder conhecer a estação de esqui Cerro Castor e praticar um pouco de esportes de neve.
Infelizmente tive apenas um dia pra poder curtir a estação de esqui e por indicação de alguns amigos eu optei em praticar o snowboard. Sem dúvida é um dos melhores esportes que já pratiquei, é viciante e possui muita adrenalina. Foi um dia inteiro de batalha contra o equilíbrio, controle da adrenalina e aprender as técnicas. O pior de tudo que tudo isso foi na cara e coragem, pois não queria gastar tempo e dinheiro com um instrutor. Peguei os betas com os locais que me deram algumas dicas de pistas / rotas. Eu nunca tinha visto neve, nunca tia ido a uma estação de esqui, nunca coloquei uma prancha de snowboard no pé e também não falo um espanhol exemplar, ai já viu o que que deu. Na primeira uma hora que pratiquei praticamente fiquei no chão, era tombo atrás de tombo. Tinha pouco equilíbrio e quando ficava veloz demais e meio que me jogava no chão, pois não sabia fazer curvas fechadas ou frear. Mas como praticar snowboard era um sonho meu eu não desisti, caia muito e de imediato já levantava para continuar. No inicio eu brincava nas pistas de iniciante que tinha eu e algumas criancinhas de 03 a 10 anos, era meio estranho, mas foi la que aprendi a base e foram estas criancinhas que me ensinaram um pouco.
Para continuar aprendendo peguei lift (elevador) e fui para o alto da montanha, tentei me ousar em uma pista de nível intermediário e com pistas mais íngremes e velozes. Gostei muito destas novas opções de pistas, apesar de serem mais velozes e adrenantes as quedas eram suaves, pois a neve era mais fofa. Daí em diante viru um ritmo frenético, descer e subir. Mantive este ritmo durante 7 horas constante, para não perder tempo em ir ao restaurante para comer e beber algo eu utilizava o tempo de subida do lift para comer um Alfajor e comer neve, isto foi o suficiente para me manter sem fome e hidratado.
Comecei pegar o ritmo do esporte e da técnica. Já esta conseguindo concentrar bem sobre os movimentos e controlar a adrenalina. Ao final do dia estava esgotado e com câimbra nas duas pernas, não conseguia nem andar, mas sem dúvida foi um esforço que valeu a pena e que na minha visão eu sai muito melhor do que eu imaginava. Na estação de inverno de 2011 estarei novamente na neve praticando snowboard. É incrível.....
OBS: A cidade de Ushuaia é uma perdição para os consumistas, la é considerado uma região livre de impostos, então você consegue comprar de tudo e muito barato. Principalmente quando se trata de material para esportes radicais e produtos eletrônicos, s olhos ate brilham quando entra nas lojas.
Matéria escrita por: Felipe Castro “Kbção”
A viagem teve apoio: CONQUISTA, ADRENA, ROKAZ, AM420NIA E STONE
Essa semana na Rokaz tem quatro escaladores tão alegres que eles estão rindo a toa o tempo inteiro, qualquer coisa que acontece agora não importa, eles acabaram de viver uma aventura fantástica e eles são profundamente felizes...
Essa aventura foi a escalada de uma das vias de paredão mais incríveis do mundo, a via "Place of Happiness", na Pedra Riscada (São José do Divino - MG). Depois de uma primeira tentativa em Junho, decidimos voltar a tentar essa via, não porque nosso orgulho estava ferido, mas porque a via merece muito provavelmente o título de via de big wall mais linda do Brasil...
A empreitada foi muito árdua, a estratégia inicial não deu certo, a escalada aconteceu de um jeito totalmente diferente do que tínhamos imaginado, arrumamos a maior gambiarra que ja arrumei da minha vida num paredão, passamos muito aperto e foi por isso que estamos tão felizes agora. O escalador de paredão, ou o montanhista em geral, é um cara as vezes um pouco esquisito: quanto mais aperto ele passa, mais feliz ele fica depois! O graal do escalador é seu limite: ele fica a vida inteira procurando ele, nos boulders, nas esportivas ou nos paredões, e cada vez que ele consegue superar seu limite, ele atinge o nirvana. E na Pedra riscada, superamos nossos limites...
Os quatro caras felizes da vida: Alexis, Pedrinho, Kbção e Carlito:
A Pedra Riscada vista de São José do Divino:
A estratégia inicial era sair na sexta a noite de BH, dormir duas ou 3 horas na base da Pedra Riscada, acordar cedo e escalar sábado as 9 ou 10 primeiras enfiadas, descer para dormir no plato que tem na altura da sexta parada, e escalar as 8 ou 9 enfiadas do final da via no domingo. Mas sabíamos que ia ser muito difícil de chegar ao cume domingo a noite e descer até a base do paredão no mesmo dia. Por isso levamos água e comida para três dias.
Na base do paredão, a via de 850m e 18 enfiadas segue a aresta amarela entre sol e sombra:
Para carregar para cima os equipos levamos um grande barril: durante o primeiro dia o Pedrinho e Kbção ficaram por conta de puxar esse monstro de 50 kilos, quando o Alexis e Carlito estavam escalando rápido com pouco peso.
Ao inicio a estratégia deu muito certo, Pedrinho com sua grande experiência de trabalhos em altura conseguiu arrumar um jeito eficiente de puxar o barril com o Kbção, e eu e Carlito estávamos escalando rápido as primeira enfiadas fáceis. Carlito guiou as 4 primeiras enfiadas em 4to e 5to grau, guiei a quinta enfiada em sétimo grau, Carlito guiou a sexta e a sétima enfiada, uma linda fenda de sexto grau a proteger com móveis, e tudo se complicou quando chegamos a oitava cordada.
Carlito guiando a sétima enfiada:
A oitava cordada sobe uma fenda vertical, muito fina e difícil de proteger com móveis, em oitavo grau. Os conquistadores bateram uma primeira chapeleta a 3 metros da parada, uma segunda a dez metros: entre as duas chapeletas tem que se proteger com micro camalots e nuts (dois tipos de móveis). Essa enfiada é o primeiro crux da via. Foi nessa enfiada que o Mister Bean caiu em Junho e quebrou o pé: ele vacou no crux da enfiada que fica logo abaixo da segunda chapeleta, as três proteções que ele tinha colocado saíram uma depois da outra e ele caiu até um pequeno plato abaixo da parada, gritando de dor... Quando dessa vez comecei a escalar essa enfiada lembrava muito bem do Bean caindo, pois foi eu que estava dando segurança para ele em junho. Eu sabia que era quase o único lance difícil da via onde não pode cair de jeito nenhum, porque as proteções são ruins e, se elas estouram, o escalador cai num plato 10 metros mais baixo. Mas no mesmo tempo estava bastante confiante pois em junho tinha mandado o lance sem muito problema. A diferença é que quando mandei o lance em junho eram 8 da manhã, a temperatura estava muito agradavel, e quando comecei a escalar sábado passado, era duas da tarde, no sol, a temperatura era muito quente. Depois da primeira chapeleta tive o prazer de achar um micro-nut travado na fenda que os Cariocas tinham deixado um mês atrás quando eles fizeram a primeira repetição da via. Depois do micro-nut coloquei mais 3 micro-camalots, para tentar proteger bem o crux abaixo da chapaleta. Mas eu sabia que essas proteções eram bastante precárias por causa da forma muito estreita e rasa da fenda. Entrei bem no crux, estava muito perto da chapeleta, escalando de oposição, com a metade da primeira falange dos dedos na fenda fina, quando de repente aconteceu o desastre... Minha mão direita, provavelmente por causa do calor, vazou... Comecei a cair para trás, estava a uns 9 metros acima do Carlito na parada, foi o inicio de uma longa vaca, o primeiro camalot saiu da fenda, comecei a dar um mortal!! O segundo móvel estourou também sem freiar minha queda, eu vi o ceu girando muito rápido, o terceiro camalot arrebentou do mesmo jeito, o pesadelo continuava, pensava muito forte que não queria machucar, o micro-nut saiu da fenda também sem opor nenhuma resistência, estava caindo, sempre caindo, passei do lado do Carlito igual um foguete, e finalmente cheguei sentado num plato a uns 2 metros abaixo do Carlos, de frente para o vazio!! Um segundo passou, dois segundos, e fiquei em pé, foi um milagre, não machuquei!! Incrível, amorteci a queda de 10 metros com minha bunda!!
A oitava enfiada vista de cima:
Não machuquei mas fiquei bastante chocado... Esperei meia hora e voltei a escalar a mesma enfiada, um pouco abalado, mas com outra estratégia em mente: ia tentar escalar esse crux em artificial. Não queria correr o risco de vacar de novo... Coloquei uma primeira proteção com um micro-camalot acima da primeira chapeleta, e dessa vez tive a ideia de descer até a chapeleta para testar o micro camalot: sentei na corda, mas segurando com as minhas mãos a costura da chapeleta. Sentei uma primeira vez, o micro camalot segurou meu peso, sentei uma segunda vez com mais vontade, o camalot segurou bem, sentei uma terceira vez fazendo mais força, e o camalot vazou... Nesse momento decidi desistir da empreitada, nenhum paredão vale a pena machucar e ficar parado vários meses...Cheguei a conclusão que para escalar essa enfiada com segurança precisava de um piton ou de uma outra chapeleta. Eram 3 ou 4 horas da tarde, o cume nunca me pareceu tão longe que nessa hora. O Pedrinho e Kbção estavam chegando no plato que fica a direita da sexta parada onde a gente tinha planejado dormir. Foi nessa hora que o nosso anjo da guarda apareceu uma segunda vez: no plato, bem estreito, onde tinham duas pequenas árvores, aconteceu um segundo milagre: o Pedrinho e o Kbção acharam um galho bastante reto de uns 5 metros de comprimento!!
Na tarde do primeiro dia, no plato do bivaque, o Pedrinho e Kbção que puxaram 50 kilos para cima, desmaiam de cansaço...
O visual no final da tarde:
O nascer do sol no segundo dia:
Depois de uma primeira noite muito boa no plato, comecei de novo a escalar com o Carlito as 7 da manhã a oitava enfiada. Mas dessa vez, com um acessório bastante original : o galho de 5 metros, que eu ia usar de stick-clip !! A uns dois metros acima da primeira chapeleta, coloquei dois micro camalots, sentei neles delicadamente, puxei para cima o "galho-clip" com uma costura (e uma corda) colocada na ponta dele com esparadrapo, e depois de umas 10 tentativas, me esticando no máximo para cima, consegui costurar a segunda chapeleta!! UUHHUU!!! Soltei gritos de alegria!! De repente, a gente estava muito mais perto do cume!
O resto da enfiada é difícil, mas não existe mais risco de cair num plato, ela é bem vertical, subindo a mesma fenda, sempre muito fina. Depois da oitava enfiada, guiei a nona enfiada. A primeira parte dessa enfiada é uma fenda mais larga, de sétimo grau, a segunda parta é negativa, de nono grau, escalei uma boa parte em artificial.
Escalando a nona enfiada:
Depois de escalar essas duas enfiadas já eram 11 da manhã, estava muito quente, era tarde demais para tentar chegar ao cume nesse segundo dia. O Kbção e Pedrinho falaram para nos descerem até o plato para descansar e esperar o calor baixar para continuar a escalar.
O Carlito na nona parada:
Por volta das 3 da tarde nesse segundo dia o Kbção e Pedrinho subiram jumareando até a nona parada, o ponto mais alto que tínhamos alcançado. Kbção guiou a décima cordada de oitavo grau, e começou a décima primeira enfiada quando a luz do sol começou a ficar laranja. Essa décima primeira cordada é o segundo crux e a enfiada mais linda da via: 60 metros de nono grau, com vários esticões de 8 a 10 metros!! Foi nessa enfiada que vaquei em junho de mais de 20 metros...
Kbção na décima primeira enfiada:
Nosso "destino" dependia agora do sucesso do Kbção nessa enfiada. Pedrinho estava na seg, eu e carlito estávamos deitados no plato, super atentos a qualquer movimento do Kbção, torcendo muito para ele conseguir chegar ao cume dessa enfiada. Foi uma luta que durou mais de uma hora e meia...
Cada vez que o Kbção chegava a uma chapeleta, ele gritava de alegria, como se cada chapeleta era uma conquista importante. Uma vez, segurando uma pinça muito ruim a 8 ou 9 metros acima da última chapeleta, ele quase vacou. Começou a expirar, estava no limite, e num movimento muito desesperado, ele superou a gravidade e alcançou a penúltima chapeleta da enfiada... Quinze minutos depois, quando ele alcançou a décima primeira parada, o pôr do sol atrás, foi festa na Pedra Riscada! Parabéns Kbção!!!
Na segunda noite no plato começamos a racionar a água. Separamos 8 litros para o terceiro dia, dois litros para o café da manhã, e 6 litros para o resto do dia, para 4 pessoas, era muito pouco... Acordamos as 4 da manhã, jumareamos de noite as enfiadas que tínhamos subido o dia anterior, e o Kbção começou a guiar as 7 enfiadas que nos separavam do cume. O Pedrinho seguia depois do Kbção, jumareando ou escalando, e depois eu e Carlito formando outra dupla escalamos atrás deles.
Carlito jumareando:
Essas 7 enfiadas são todas lindas, numa aresta vertical que vira positiva no final, quase sempre muito exposta. Escalar a 700 ou 800 metros do chão é sempre um grande prazer para quem não tem medo de altura... Da a impressão de voar, de ter conseguido se livrar da gravidade... Dois maravilhosos e gigantes urubus rei nos acompanharam durante um bom tempo.
A meio dia alcançamos o cume!! É sempre um grande momento de alegria, o escalador é muito feliz de ter vencido a parte mais difícil da empreitada, mas não pode se relaxar porque ele ainda tem que enfrentar a parte mais perigosa da escalada: a descida.
Conseguimos ser bem eficientes na descida, Kbção e Pedrinho iam na frente, Pedrinho trocava uma chapeleta a cada parada para colocar uma argola e facilitar a descida de rappel.
Nesse terceiro dia, o vento nunca parou e incomodou bastante a gente na descida de rappel...
As 3 da tarde chegamos no plato do bivaque, depois de arrumar nossas coisas continuamos a descida e chegamos ao carro quando começou a escurecer, esfomeados e totalmente desidratados... Timing perfeito!! Chegou finalmente a hora de relaxar...
ESCALAMOS A PAREDE DOS SONHOS!! Essa via vai virar uma clássica com certeza, ela vale os big walls do Yosemite!! Valeu Carlito, Kbção e Pedrinho, a parceria foi excelente!! Essa semana, estamos muito felizes, realizamos um sonho, e mais importante ainda, temos muitos outros para realizar...
Apoiaram essa realização: CONQUISTA, ADRENA, ROKAZ, AM420NIA E STONE